Covid-19, o tempo e a finitude humana: nada vale mais que o afeto humano e humanizador - Por Carlos Eduardo Cardozo


A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou esta semana (no dia 16/03/2020) que a pandemia de Covid-19 é “a maior crise sanitária global do nosso tempo”. O capitalismo atual e a transformação do planeta numa vasta rede de interconectividade nos proporcionam uma oportunidade singular para dar-nos conta das mil formas sutis de esvaziamentos do presente e dos afetos. Temos sentido isso muito de perto com a recomendação do “isolamento social”, como forma de conter a disseminação do vírus.
Essa pandemia do qual estamos experimentando como sociedade, no limiar nessa mudança de década no século XXI, no coloca de frente a nossa realidade mais humana: a finitude!
Não temos todo o tempo do mundo!
O ser humano é um ser sensível, um ser frágil... mas o neoliberalismo e o capitalismo nos fizeram esquecer dessa certeza! Nela estão envolvidos mitos, espiritualidades, filosofias e religiões. O mundo nos distancia da humanidade na medida em que arrastam consigo propostas sacrificiais, sugadoras do direito de viver o tempo presente.
O poeta checo, Rainer Maria Rilke, no início do século passado, questiona em um dos seus poemas: - Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um olhar de despedida em tudo o que fazemos?
Essa pandemia, o isolamento social e todas essas tristes notícias que vamos acompanhando nos noticiários há algo em comum: o poder de interromper o tempo. Assim, é preciso (res)significar nossa vida, dando importância aos afetos humanos e humanizadores.
Com efeito, o afeto deve compreender-se principalmente como uma predisposição de ordem antropológica inscrita em nós desde o nascimento: essa pertence à nossa identidade mais profunda e se qualifica como “sentimento”, capacidade de “sentir”, páthos, que compromete todo o ser, abrindo à humanização, ao encontro, à “com-paixão” e à convivialidade.
Quem sabe nos esquecemos disso ultimamente diante de tanta ganância, tanto egoísmo, tanto fundamentalismos, tantas violências de todos os tipos. Mas, a humanidade terá outra oportunidade de rever suas prioridades.

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