Participação Juvenil: novas formas para novos modelos
Além de receberem influências variadas, os jovens participam na dinâmica da sociedade através de estratégias diferentes, seja como atores sociais e políticos ou manifestando diversas formas de expressão e identidade. Porém, a maior parte das formas, que esse desejo de participação juvenil tem assumido ao longo da história, tem como característica a oscilação, alternando períodos de visibilidade pública com outros de forte retração e invisibilidade. Tudo parece estar intimamente relacionado com a transitoriedade da condição juvenil que leva, diferentemente dos trabalhadores ou das mulheres que se guiam, sobretudo, pelas dimensões materiais da existência, os jovens a se orientarem por interesses não necessariamente voltados a seu ciclo de vida.
Essas reflexões facilitam abordar o polêmico tema sobre uma suposta “apatia juvenil”, principalmente em relação à participação política, em comparação com o maior interesse de gerações anteriores de jovens durante os anos sessenta e setenta. As evidências disponíveis indicam que existe um marcado distanciamento crítico dos jovens a respeito das principais instituições públicas (os partidos políticos, o parlamento, a justiça, a polícia e outros). Também assinalam escassas distâncias com as percepções – também muito críticas – que têm outros setores populacionais, o que estaria indicando que se trata de um problema ligado a essas instituições e sua dinâmica específica na sociedade atual e não de um questionamento antidemocrático dos jovens.
Na realidade, tudo parece indicar que a chamada “apatia juvenil” se relaciona com a desilusão que estariam produzindo instituições que funcionam cada vez mais ligada a graves problemas relacionados com a corrupção, a falta de transparência, e a ineficácia na gestão, e se aprofunda ainda mais diante das crises de governabilidade em que se encontra o nosso país nestas últimas décadas. O certo é que quando os jovens percebem possibilidades reais de incidir nas decisões, participam com grande entusiasmo, como ocorreu com a participação dos jovens brasileiros por eleições diretas (o movimento das “Diretas Já”, em 1984), e pelo impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992; ainda que sem aprofundar aqui tais manifestações.
É provável, também, que essa seja a razão de que nos últimos tempos e em todo o mundo venham proliferando os grupos juvenis (de toda ordem), como espaços onde os jovens se sentem mais confortáveis, porque mais respeitados. Os grupos de jovens se constituem com principal agente socializador no processo de socialização juvenil.
Participação de diferentes grupos juvenis
A juventude é uma construção social relacionada com formas de ver o outro / a outra por estereótipos, momentos históricos, referências diversificadas e situações de classe, gênero, étnico-racial, entre outras. Existem muitos e diversos grupos juvenis, com características particulares e específicas. Nesse sentido, a tipologia seguinte, para ABAD (2002), é apenas ilustrativa de alguns grupos que se destacam no imaginário social e por referencias múltiplas nas sociedades latino-americanas contemporâneas:
a) um dos principais grupos juvenis – o único que era socialmente reconhecido até os anos setenta é o dos estudantes universitários e do ensino médio. Foram os movimentos estudantis tradicionalmente o protótipo de juventude e, durante décadas, o único setor de jovens que participou do cenário social e político na qualidade de ator, em particular no enfrentamento das ditaduras e na busca de sociedades mais democráticas.
b) De forma paralela, especialmente a partir dos anos setenta e oitenta e muito claramente na América Latina, deu-se a irrupção social de outra juventude. Isto é, da juventude popular urbana, excluída do acesso à educação média e superior, habitantes de crescentes e extensas zonas periféricas que, com métodos totalmente diferentes aos dos jovens universitários. Começaram a se organizar e a exteriorizar processos de identificação próprios junto com práticas ligadas a diversas formas de violência, como expressão de contestação a esta sociedade da qual são excluídos.
c) Nos anos sessenta os jovens rurais perderam visibilidade, à medida que foram submetidos a processos de transformação, cada vez mais influenciados pela cultura urbana moderna e pelas mudanças registradas nas sociedades rurais. No entanto, conservam características próprias relevantes. Segmentos dessa juventude vêm despertando atenção de estudiosos e atenção social nas últimas décadas, considerando os níveis de organização e manifestação sociais de crítica e luta pela reforma agrária. Emblemático exemplo é a organização e capacidade de mobilização dos jovens do MST.
d) Outro setor, com características bem peculiares, e com grande tendência a adquirir maior visibilidade social é o das mulheres jovens. Afetadas por uma dupla exclusão social (etária e de gênero), elas ganharam espaço de reconhecimento, levadas pela sua crescente incorporação à educação e ao trabalho em particular, mesmo que ainda em posições subordinadas, que continuam marcando as iniqüidades de gênero. Seu destaque na participação vai tecendo em movimentos sociais de base popular, como no movimento negro e de bairros urbanos periféricos, em particular voltados à “advocacia” de direitos humanos, como os sexuais e reprodutivos.
e) É de visibilidade social mais recente os jovens em organizações não-governamentais (ONG) e de base comunitária, sobretudo, ligadas à cultura. Esses jovens desempenham importante papel no campo da educação para e de cidadania, assim como na afirmação da cultura afro-brasileira e referência de auto-estima e identidade, por uma cultura juvenil criativa.
f) Há de considerar ainda os grupos juvenis religiosos, sobretudo, da Igreja Católica. Os grupos de jovens por muito tempo tiveram uma grande presença na sociedade civil. Na metade do século XX, a Ação Católica formou um grande movimento de participação e mobilização de juventude. Depois durante os anos oitenta e noventa, a Pastoral da Juventude, a partir de uma leitura social e inserida da Palavra de Deus, iniciou um processo de formação sócio-político grande. Mais recentemente, a Pastoral Juvenil tem empreendido ações de formação e participação das discussões de Políticas Públicas, com temas de DNJ, Semana da Cidadania, Semana do Estudante etc. Tem sido tão importante a participação da Igreja-jovem na esfera das discussões políticas que, atualmente, a presidência do Conselho Nacional de Juventude está para a Pastoral da Juventude, na pessoa da Elen Linth.
g) Esta análise, mesmo que simplificada, ficaria incompleta se não incorporasse a dimensão étnica, já que as condições em quem crescem os jovens indígenas e, especialmente, os jovens afro-descendentes (por exemplo), têm especificidades próprias, evidentes e preocupantes. Alerta-se para discriminações e vulnerabilidades específicas dos jovens afro-descendentes (segundo o IDJ-2007, a escolaridade média de um jovem negro com 25 anos gira em torno de 6,1 anos, um jovem branco, da mesma idade tem cerca de 8,4 anos de estudo, isso olhando apenas um aspecto, educação formal) e também a sua crescente presença organizada em movimentos por demarcações identitárias étnicos-raciais, contando-se com várias entidades de movimento negro, em que os jovens tem participação destacada.
O tema é tão complexo quanto relevante, porque se trata de participação juvenil na sociedade a que pertencem, o que certamente constitui a chave-mestra da dinâmica e das políticas públicas vinculadas ao setor. Pode-se dizer que, assim como a palavra-chave nas políticas de infância é proteção e nas políticas ligadas a mulher é igualdade e o direito a serem diferentes, já nas políticas de juventude é participação, autonomia e identidade.
Essas reflexões facilitam abordar o polêmico tema sobre uma suposta “apatia juvenil”, principalmente em relação à participação política, em comparação com o maior interesse de gerações anteriores de jovens durante os anos sessenta e setenta. As evidências disponíveis indicam que existe um marcado distanciamento crítico dos jovens a respeito das principais instituições públicas (os partidos políticos, o parlamento, a justiça, a polícia e outros). Também assinalam escassas distâncias com as percepções – também muito críticas – que têm outros setores populacionais, o que estaria indicando que se trata de um problema ligado a essas instituições e sua dinâmica específica na sociedade atual e não de um questionamento antidemocrático dos jovens.
Na realidade, tudo parece indicar que a chamada “apatia juvenil” se relaciona com a desilusão que estariam produzindo instituições que funcionam cada vez mais ligada a graves problemas relacionados com a corrupção, a falta de transparência, e a ineficácia na gestão, e se aprofunda ainda mais diante das crises de governabilidade em que se encontra o nosso país nestas últimas décadas. O certo é que quando os jovens percebem possibilidades reais de incidir nas decisões, participam com grande entusiasmo, como ocorreu com a participação dos jovens brasileiros por eleições diretas (o movimento das “Diretas Já”, em 1984), e pelo impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992; ainda que sem aprofundar aqui tais manifestações.
É provável, também, que essa seja a razão de que nos últimos tempos e em todo o mundo venham proliferando os grupos juvenis (de toda ordem), como espaços onde os jovens se sentem mais confortáveis, porque mais respeitados. Os grupos de jovens se constituem com principal agente socializador no processo de socialização juvenil.
Participação de diferentes grupos juvenis
A juventude é uma construção social relacionada com formas de ver o outro / a outra por estereótipos, momentos históricos, referências diversificadas e situações de classe, gênero, étnico-racial, entre outras. Existem muitos e diversos grupos juvenis, com características particulares e específicas. Nesse sentido, a tipologia seguinte, para ABAD (2002), é apenas ilustrativa de alguns grupos que se destacam no imaginário social e por referencias múltiplas nas sociedades latino-americanas contemporâneas:
a) um dos principais grupos juvenis – o único que era socialmente reconhecido até os anos setenta é o dos estudantes universitários e do ensino médio. Foram os movimentos estudantis tradicionalmente o protótipo de juventude e, durante décadas, o único setor de jovens que participou do cenário social e político na qualidade de ator, em particular no enfrentamento das ditaduras e na busca de sociedades mais democráticas.
b) De forma paralela, especialmente a partir dos anos setenta e oitenta e muito claramente na América Latina, deu-se a irrupção social de outra juventude. Isto é, da juventude popular urbana, excluída do acesso à educação média e superior, habitantes de crescentes e extensas zonas periféricas que, com métodos totalmente diferentes aos dos jovens universitários. Começaram a se organizar e a exteriorizar processos de identificação próprios junto com práticas ligadas a diversas formas de violência, como expressão de contestação a esta sociedade da qual são excluídos.
c) Nos anos sessenta os jovens rurais perderam visibilidade, à medida que foram submetidos a processos de transformação, cada vez mais influenciados pela cultura urbana moderna e pelas mudanças registradas nas sociedades rurais. No entanto, conservam características próprias relevantes. Segmentos dessa juventude vêm despertando atenção de estudiosos e atenção social nas últimas décadas, considerando os níveis de organização e manifestação sociais de crítica e luta pela reforma agrária. Emblemático exemplo é a organização e capacidade de mobilização dos jovens do MST.
d) Outro setor, com características bem peculiares, e com grande tendência a adquirir maior visibilidade social é o das mulheres jovens. Afetadas por uma dupla exclusão social (etária e de gênero), elas ganharam espaço de reconhecimento, levadas pela sua crescente incorporação à educação e ao trabalho em particular, mesmo que ainda em posições subordinadas, que continuam marcando as iniqüidades de gênero. Seu destaque na participação vai tecendo em movimentos sociais de base popular, como no movimento negro e de bairros urbanos periféricos, em particular voltados à “advocacia” de direitos humanos, como os sexuais e reprodutivos.
e) É de visibilidade social mais recente os jovens em organizações não-governamentais (ONG) e de base comunitária, sobretudo, ligadas à cultura. Esses jovens desempenham importante papel no campo da educação para e de cidadania, assim como na afirmação da cultura afro-brasileira e referência de auto-estima e identidade, por uma cultura juvenil criativa.
f) Há de considerar ainda os grupos juvenis religiosos, sobretudo, da Igreja Católica. Os grupos de jovens por muito tempo tiveram uma grande presença na sociedade civil. Na metade do século XX, a Ação Católica formou um grande movimento de participação e mobilização de juventude. Depois durante os anos oitenta e noventa, a Pastoral da Juventude, a partir de uma leitura social e inserida da Palavra de Deus, iniciou um processo de formação sócio-político grande. Mais recentemente, a Pastoral Juvenil tem empreendido ações de formação e participação das discussões de Políticas Públicas, com temas de DNJ, Semana da Cidadania, Semana do Estudante etc. Tem sido tão importante a participação da Igreja-jovem na esfera das discussões políticas que, atualmente, a presidência do Conselho Nacional de Juventude está para a Pastoral da Juventude, na pessoa da Elen Linth.
g) Esta análise, mesmo que simplificada, ficaria incompleta se não incorporasse a dimensão étnica, já que as condições em quem crescem os jovens indígenas e, especialmente, os jovens afro-descendentes (por exemplo), têm especificidades próprias, evidentes e preocupantes. Alerta-se para discriminações e vulnerabilidades específicas dos jovens afro-descendentes (segundo o IDJ-2007, a escolaridade média de um jovem negro com 25 anos gira em torno de 6,1 anos, um jovem branco, da mesma idade tem cerca de 8,4 anos de estudo, isso olhando apenas um aspecto, educação formal) e também a sua crescente presença organizada em movimentos por demarcações identitárias étnicos-raciais, contando-se com várias entidades de movimento negro, em que os jovens tem participação destacada.
O tema é tão complexo quanto relevante, porque se trata de participação juvenil na sociedade a que pertencem, o que certamente constitui a chave-mestra da dinâmica e das políticas públicas vinculadas ao setor. Pode-se dizer que, assim como a palavra-chave nas políticas de infância é proteção e nas políticas ligadas a mulher é igualdade e o direito a serem diferentes, já nas políticas de juventude é participação, autonomia e identidade.
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